Unidade de conservação
RPPN Fazenda Bituri

Por Flávia Bezerra Cavalcanti

“Preservar a natureza é a única esperança que podemos deixar para as gerações futuras”. Foi com essa afirmação que Paulo Amorim, procurador da RPPN Fazenda Bituri, localizada no município de Belo Jardim, definiu a iniciativa da sua família de transformar em reserva particular uma área de 110,21 hectares da fazenda.

O título de reconhecimento foi entregue pela CPRH em agosto de 1999. Entre os principais atributos conferidos pelos técnicos do órgão ambiental durante o processo de reconhecimento, merece destaque, além da biodiversidade e do patrimônio histórico, a presença de um ecossistema especial encontrado no agreste e sertão de Pernambuco: o brejo de altitude.

Os brejos de altitude são reconhecidos como ecossistemas associados ao bioma Mata Atlântica. Ocorrem entre os Estados de Pernambuco e Paraíba, na porção oriental do maciço da Borborema. Sua principal característica é a presença da mata úmida, além de apresentar peculiaridades quanto ao clima úmido e com temperaturas amenas, altitude acima dos 700 metros (a Fazenda Bituri encontra-se a 1.050 metros) e grande diversidade de vegetação. Essas características fazem com que os animais da região semi-árida, no entorno dos brejos, procurem refúgio nas serras durante os grandes períodos de estiagem.

A RPPN abriga a mata preservada em muitos trechos, contrastando com áreas onde os desmatamentos ainda ocorrem na região, com a finalidade alimentar os fornos das casas de farinha e a construção de residências.

 

O levantamento das espécies da flora realizado na fazenda “constitui a mais expressiva relíquia vegetal do Estado de Pernambuco, com alta diversidade florística”, segundo a professora e pesquisadora Margareth Sales, da Universidade Federal Rural de Pernambuco. O estudo “Plantas Vasculares das Florestas Serranas de Pernambuco – Um checklist da Flora Ameaçada dos Brejos de Altitude”, revelou que, nos limites da RPPN, existem 200 espécies, entre elas dois novos registros para a ciência: a Byrsonima pedunculata e a Bunchosia pernambucana.

No levantamento da fauna existente na fazenda, foram encontradas espécies raras na natureza, como a jia-pimenta e o galo-de-campina. Segundo Paulo Amorim, animais como o tatu e o gato-do-mato também são encontrados na região.
Café e cana-de-açúcar: memórias do agreste pernambucano
Nos anos 70, as culturas do café e da cana-de-açúcar foram bastante significativas para a manutenção da Fazenda Bituri. Produziu-se café em grande quantidade até meados dos anos 60. A safra anual chegava a 25 toneladas e era vendida aos comerciantes de Bezerros (PE) e Campina Grande (PB) e de lá seguia para o Recife, de onde era exportada. Hoje, o café que sai da propriedade chega apenas a três sacas ao ano, cerca de 180 quilos.
A cana-de-açúcar cultivada era utilizada na fabricação da rapadura. Ali funcionavam dois engenhos de cana, com moendas puxadas a tração animal (por “dois bois de carro”, lembra Jurandiy Araújo, pai de Paulo Amorim).
Ecoturismo e patrimônio histórico

Os proprietários da fazenda pretendem obter recursos para a implantação de projetos que explorem o patrimônio natural da fazenda, como o de ecoturismo, que prevê a instalação de trilhas ecológicas, o turismo científico, além da restauração da casa sede, que poderá funcionar como pousada ou centro de apoio aos turistas e pesquisadores.

 

Além da diversidade da fauna e flora, a fazenda possui uma outra riqueza: o seu patrimônio histórico. A casa grande do engenho, construída em 1730, por um antepassado da família Amorim, ilustra a importância da cultura do café e da cana-de-açúcar. Na sala de estar encontra-se um santuário em madeira, pintado a mão, que abriga uma imagem de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. A ilustração da virgem tem a mesma data da construção da casa e é assinada pelo artista francês M.L. Bosredon, onde há a inscrição: “La vierge de lumière” (A virgem da luz). Os moradores da região acreditam que a imagem é milagrosa e sempre visitam o santuário para pagar promessas e acender velas à santa.
Os projetos de utilização da RPPN deverão constar do Plano de Utilização da Reserva, que é uma das obrigações do proprietário na gestão da unidade de conservação. A implementação dos projetos e os usos pretendidos devem ser submetidos à aprovação da CPRH.

 

Conheça o Diploma Legal da RPPN Fazenda Bituri

Conheça a Ficha Técnica da RPPN Fazenda Bituri

Conheça o Plano de Manejo da RPPN Fazenda Bituri

 

Flora da RPPN Fazenda Bituri

FAMÍLIA Nome Científico Nome comum
SAPOTACEA Manilkara salzmanii maçaranduba
MALPIGHIACEAE Byrsonima sericea murici
FABACEAE Bowdichia virgilioides sucupira
MELIACEAE Cedrela odoratas cedro
BOMBACACEAE Eriotheca crenulaticalyx munguba
VOCHYSIACEAE Vochysia thirsoidea camaçari
MIMOSACEAE Inga capitata ingá
COMBRETACEAE Buchenavia capitata esparrada
FABACEAE Pterocarpus rohrii pau-sangue
BIGNONIACEAE Tabebuia serratifolia pau-d’arco
ARALIACEAE Schefflera morototoni sambaqui
PROTEACEA Roupala sp carne de vaca
ARECACEAE Elaeis sp dendê
ARECACEAE Syagrus sp catolé
FABACEAE Andira nitida angelim
ARECACEAE Euterpa sp palmito
AREACACEAE Roystonea sp palmeira imperial

Fonte: 1.Laudo de vistoria nº 001/99 – CPRH. 2. Relação das Espécies Encontradas na Mata de Brejo de Altitude, Fazenda Bituri, Município de Brejo da Madre de Deus – PE. Levantamento realizado no período de 05/1995 a 1996 pelos professores Drs. Margareth F. Sales, Maria Jesus Rodal e Symom J. Mayo, dentro do Projeto Brejo de Altitude de Pernambuco. Universidade Federal Rural de Pernambuco – Departamento de Biologia – Área de Botânica.

 

Fauna da RPPN Fazenda Bituri

ORDEM/ FAMÍLIA/ Subfamília Nome científico (Nome popular da espécie) status*
ORDEM CICONNIFORMES
FAMÍLIA CATHARTIDAE
Coragyps atratus (Urubu-de-cabeça-preta)
Cathartes burrovianus (Urubu-de-cabeça-amarela)
ORDEM FALCONIFORMES
FAMÍLIA ACCIPITRIDAE Buteo albonotatus (Gavião-de-rabo-barrado)
Buteo magnirostris (Gavião-carijó)
Geranospiza caerulescens (Gavião-pernilongo)
FAMÍLIA FALCONIDAE Caracara plancus (Gavião-carcará)
ORDEM COLUMBIFORMES
FAMÍLIA COLUMBIDAE
Columbina talpacoti (Rolinha-caldo-de-feijão)
ORDEM PSITTACIFORMES
FAMÍLIA PSITTACIDAE
Forpus xanthopterygius (Tuim)
ORDEM CUCULIFORMES
FAMÍLIA CUCULIDAE
Crotophaga ani (Anu-preto)
ORDEM CAPRIMULGIFORMES
FAMÍLIA CAPRIMULGIDAE
Subfamília Crotophaginae
Chordeiles pusillus (Bacurauzinho)
ORDEM APODIFORMES
FAMÍLIA TROCHILIDAE
Phaethornis pretrei (Beija-flor-rabo-branco-de-sobre-amarelo)
Phaethornis ruber (Beija-flor-besourinho-da-mata)
Aphantochroa cirrhochloris (Beija-flor-cinza)
ORDEM PICIFORMES
FAMÍLIA GALBULIDAE Galbula ruficauda (Bico-de-agulha)
FAMÍLIA PICIDAE Picumnus fulvescens (Pica-pau-anão-de-pernambuco)
Veniliornis passerinus (Pica-pau-pequeno)
ORDEM PASSERIFORMES
FAMÍLIA FORMICARIIDAE Thamnophilus caerulescens (Espanta-raposa)
Dysithamnus mentalis (Choquinha-lisa)
Herpsilochmus atricapillus (Chorozinho-de-chapéu-preto)
FAMÍLIA CONOPOPHAGIDAE Conopophaga lineata (Chupa-dente)- ESPÉCIE AMEAÇADA DE EXTINÇÃO
FAMÍLIA FURNARIIDAE
Subfamília Synallaxinae
Synallaxis infuscata (Tatac)- ESPÉCIE AMEAÇADA DE EXTINÇÃO
Synallaxis hypospodia (João-grilo)
Phacellodomus rufifrons (Ferreiro)
FAMÍLIA DENDROCOLAPTIDAE Sittasomus griseicapillus (Arapaçu-verde)
FAMÍLIA TYRANNIDAE
Subfamília Elaeniinea Phyllomyias fasciatus (Pássaro-fantasma)
Camptostoma obsoletum (Risadinha)
Elaenia flavogaster (Maria-já-é-dia)
Elaenia spectabilis (Guaracava-grande)
Serpophaga subcristata (Alegrinho)
Todirostrum cinereum (Reloginho)
Tolmomyias flaviventris (Bico-chato-amarelo)
Subfamília Tyranninae Pitangus sulphuratus (Bem-te-vi)
Megarynchus pitangua (Bem-te-vi-de-bico-de-gamela)
Myiozetetes similis (Bem-te-vizinho-de-coroa-vermelha)
Tyrannus melancholicus (Suiriri)
FAMÍLIA PIPRIDAE Manacus manacus (Rendeira)
FAMÍLIA HIRUNDINIDAE Progne tapera (Andorinha-do-campo)
FAMÍLIA TROGLODYTIDAE Thryothorus genibarbis (Garrinchão-pai-avô)
Troglodytes musculus (Rouxinol)
FAMÍLIA MUSCICAPIDAE
Subfamília Sylviinae Ramphocaenus melanurus (Bico-assovelado)
Polioptila plumbea (Rabo-mole)
Subfamília Turdinae Turdus leucomelas (Sabiá-branco)
FAMÍLIA MIMIDAE Mimus saturninus (Sabiá-do-campo)
FAMÍLIA VIREONIDAE Cyclarhis gujanensis (Pitiguari)
Hylophilus amaurocephalus (Verdinho-coroado)
FAMÍLIA EMBERIZIDAE
Subfamília Parulinae Basileuterus flaveolus (Canário-do-mato)
Subfamília Coerebinae Coereba flaveola (Sebito)
Subfamília Thraupinae Thlypopsis sordida (Canário-de-folha)
Thraupis sayaca (Sanhaçu-de-bananeira)
Thraupis palmarum (Sanhaçu-de-coqueiro)
Euphonia chlorotica (Vem-vem)
Tangara fastuosa (Pintor-verdadeiro)- ESPÉCIE AMEAÇADA DE EXTINÇÃO
Tangara cyanocephala (Pintor-mirim)- ESPÉCIE AMEAÇADA DE EXTINÇÃO
Tangara cayana (Frei-Vicente)
Cyanerpes cyaneus (Saíra-beija-flor)
Subfamília Emberizinae Zonotrichia capensis (Jesus-meu-Deus)
Ammodramus humeralis (Salta-caminho)
Sicalis flaveola (Canário-da-terra)
Volatinia jacarina (Tiziu)
Sporophila nigricollis (Papa-capim)
Sporophila albogularis (Patativa-golada)
Sporophila leucoptera (Chorão)
Arremon taciturnus (Tico-tico-da-mata)
FAMÍLIA FRINGILLIDAE Carduelis yarellii (Pintassilva) – ESPÉCIE AMEAÇADA DE EXTINÇÃO
Subfamília Carduelinae
* com base na Lista de Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção (MMA/Ibama) – 2003